30.1.23

02 DO POVO

Já já
Todo maneiro
E marinho
Janeiro 
E se vai
Bem faceiro
Por obra
Do calendário

Deixa a vez 
Ao rebento
Burlesco dignitário
Sambista, carnavalesco
O sucessor mais festeiro
Vem vindo
Bem vindo
No enredo
O mês nos braços do povo
Salve zero dois
Fevereiro




 

9.4.22

 

Lua

Me embrulha

Presente

Na sua Virilha

Me encilha

Exultante

Na curvatura

Brilhante crescente

Das costas suas

Me espalha

Nas fases

Da alta voltagem

E me ata

À sua alma

Como uma alma nata

Vertigem

Visagem

Que acolhe

Em seu corpo

Nem que seja por pouco

Minha alunissagem

 

10.2.22

TEIA

A teia da aranha
Balança no vento
Acorda 
Bamba
Barganha
Sonâmbula
Faz e desfaz
Que sim, sim que faz 
Que faz que não faz
 
Retorce
Insinua
Contorce
E se Assanha
A tela que é teia
Avança e recua
Oscila com arte
Destarte
Tamanha

Ate que, então,
Repente façanha,
Bem de supetão
Acalma o momento
Desfaz-se do vento
E reparte comigo
Num largo instante
A paz azulada
Do firmamento                                                                                                                                          

14.10.21

E quando as brumas 
Me cercaram
Tomei de assalto
A História
E me fiz parte
Do calendário
Num sobressalto
Arriscado 
Virei, de fato,
Brumário

 

6.6.21

A Lua balança
Tremula, mundana,
Dança...
Na tela fria do lago
Dois céus estrelados
Enluarados
Ao alcance restrito
Dos meus incansáveis olhos
Fatigados
Dois céus invertidos
Estrelados e enluarados
Riscando rascunhos
Cinematográficos
Definitivos e inimitáveis
Em cada quadro
 

11.2.21

Primeiro

Um céu repartido

Dilacerado


Esquartejado por mares

De fios enraizados

Riscados desrabiscados

Sobrepostos nos postes

Lanhados nos telhados

Tesos e energizados

À flor encapada da pele

Pela cidade enervados


Depois

Bem longe

Tão longe, isolado

Riscado e ensimesmado


Segue um jato seu traçado

Num alto e aéreo plano

Tão distante do emaranhado

De fios e rumor humano

Dos passos sobrepassados

Pesados e Sopesados

Do assombro desrabiscado

Do resumo cotidiano


 

16.4.19

ORAÇÃO DE MÚSICO

Glória a Bach
Nas partituras
E paz na Terra
Aos homens e mulheres
De boa musicalidade

22.4.18

UTOPIA

A utopia
É essa fresta
Na janela
É bem esse vento
Que ali
Se interna
E voa os papéis do lugar

É a nesga de luz
Que faz troça
Da penumbra
E deixa as folhas
Mais verdes
Só de olharem
Pra ela

É a que liga
Os sentidos
Num sentido
Para o efêmero
Num mirante
Para o cotidiano

Ilhada ou cercada
Levada ao extremo...
Que nada...
A utopia
É uma alegria
Premeditada

4.2.18

O RIO ERA DOCE

O rio era doce
Mas no meio do caminho
Tinha o ferro
E o tormento
De arrancá-lo da terra


Ferro ainda minério
Que nasce tão pobre
E num amargo mistério
Faz sua jornada impiedosa
Até repousar tão rico
No colo de uns poucos


E no meio do ferro
Tinha o lodo
Que suja o entorno
Mas purifica a oferenda


E no meio do lodo
Tinha a barragem
Vertendo a lama
Que sobra dos negócios


O rio era doce
Mas no meio do caminho
Tinha uma má companhia

15.11.16

DA LUA

Super Lua
Não demore
Volte cedo
No fim da tarde

Não se atrase do outro lado
Com o brilho dos quasares
Segue os cachos das estrelas
Que se encolhem
Sem alarde
Pra espreitar sua passagem

Super Lua
Não demore
Leve o tempo
Que o espaço pede
Mas me traga sua bondade

30.10.14

FERIADOS



Antes
Do feriado quente
De navegantes,
Não muito longe
Não tão distante
Além da ponte
E dos pescadores
Das estradas sulcadas das ilhas
E dos navios mercantes,
Fica o outro lado do mundo
O feriado de finados
E os ventos
Desalmados
De novembro

14.12.13

MORRER NO MAR



As mortes têm matéria
Têm o peso do que seria
Movimentos fantasmagóricos
No inverso de um degelo
As mortes são de areia
Museus da fotografia

Pleno,
Plano,
Altiplano
Aquário submerso
De possibilidades
O fundo do mar é plano

Um ramo de corais
Balançando
Ao vento da água
Uma guarnição
De estrelas do mar
Em honras de estado natural
Todo o sal
E tanto sal
E as espinhas
De todos os peixes
Curvando à dança das algas

Nunca mais
Só te digo
Nunca mais
Pleno e plano
Pelas algas, águas,
Peixes e corais
















MAESTRO VERMELHO

O maestro não é déspota 
Nem é destro 
É canhoto e de esquerda 
Manifesto 
É o mestre sonoro das obras 
Que só descansa 
Mas inquieto 
Na cadência intimista 
Do solista 

Não é déspota 
Nem é destro 
É o antídoto do fraque 
Que as frisas 
De araque 
Não percebem 
Nem de longe 
Nem de perto

30.9.13

TÔNUS


Outono
É ônibus de tônus
Amarelado
Meio sombrio
Meio ensolarado
Meio soprano
Meio desafinado

Seu letreiro é uma rima
Uma parada que ensina:
Turbina no reverso,
Meu camarada...

Bemvindo a este aeroporto
Meio absorto
Meio compenetrado
Meio arredio
Meio adocicado
Com um tanto de castanha
Espalhada
Calor eufórico
No meio dia
Frio depressivo
Na madrugada

Como tônus de outono
Nos ônibus
E castanhas amareladas
No meio fio
E na calçada
Meio sem brio 
Meio arrebatado
Meio sombrio
Meio ensolarado









9.9.13

SONATA


Uma sonata
Duas luas
Um soneto
Um sonar

O trago amargo
De um tango
E a bondade de trigo
Dos seus cabelos

Me reconheço
Na sua cintura
Meu ancoradouro
De partidas
E me amanheço na noite
Ouvindo a cantoria da chuva
E a sua respiração

Bom dia...

A humanidade
Acorda assustada
E as suas lunetas
De azul oriental
Esse impossível azul transcendental 
Se esquecem num céu de esperanças
Pulsando tranquilas
Estrelas adormecidas

Não há tempo pro medo
Eu sofro, mas vou com você
E aqueço seu rosto risonho
Até o ônibus chegar
Você vai cuidar das pessoas
E eu me conformo com as luas
Que ficaram pra traz
Procurando algum céu
De esperanças
Uma sonata
Um soneto
Um sonar