25.10.09

MANHÃ NO CAIS

Agora
Eu bebo a manhã
No cais
Pondo os olhos no tapete
De diamantes molhados
Que a ebulição do sal
Faz nos cristais

Vendo os barcos
Que ainda dormem
Aninhados
No balanço de pai
Do mar
Enquanto a água
Toda ferve
Com a luz crescente
Do fogo solar


Uma xícara de café
Pra esquentar as mãos
Um velho tênis sujo
Pra acompanhar os pés


Pois outra noite me serviu
Suas estrelas
– Nunca mais –

Outro dia me oferece
Seus azuis
E tudo mais

Esse sentido estranho
De unidade
De estar só
Sem solidão
É como um ensaio
Pessoal de paz
É uma antiga sede
Sem secura
Que me faz
Às vezes de surpresa
Beber assim
A manhã no cais

VÂNDALOS LÚCIDOS NO BAIRRO DA CLASSE MÉDIA ALTA

(ou "Recuerdos da Adolescência")

Qual é o problema?
Nós só queremos quebrar...
Afinal,
Fomos nós que fizemos
E você
- Que há eras nos quebra –
Acha ruim
Quando queremos zoar?

Qual e o problema?
Vai gritar que somos
Marginais?
E somos!
Não nos ofende, nós somos!
Assim como você...
Só que nossa margem é outra
(E nem tente nos comparar
Ao seu jeito respeitável de ser)

Qual é o problema?
Você tem medo da rua
Da falta de proteção?
Você precisa da polícia
Da lei, da pobreza,
Do burocrata
De plantão?
Do profissional exemplar
Puxa-saco da empresa
Que só pensa em progredir
E veste a camisa
Da exploração?
E do seu filho perverso
Que brinca de bater em pobre
Quando enche a cara de scoth
Pega o camionetão
E sai com a turma de porre?

É, honorável cidadão...
Qual é o problema?
Nós só queremos quebrar as coisas
Mas você,
Quer quebrar nossos ossos,
Você quer mesmo nos destruir...

Quer,
Mas não vai conseguir...
Mesmo que não seja
Por último
Nós viemos aqui pra zoar
E vamos zoar e quebrar
E vamos nos divertir!

SEXO DOS ANJOS

O sexo dos anjos
Deve ser
Uma orgia celestial
Baco
Bacana
Bacanal
Toda sem forma do amor
Do solitário ao grupal...
Paraíso
Não seria para isso,
Afinal?

8.10.09

CAcOS

Cacos de luz
Espelhos de chuva
Nesses dias de lua
Abrem-se os sóis
Do oriente

7.10.09

HYPE NOISE

Minha retina
Turbina
O que me capta
O olhar

Minha retina
É ótima, é ótica
Mas tem mania
De inventar

TREM FANTASMA

O trem fantasma
Não leva carga
Só leva a alma
De quem partiu

Não trilha
Trilho de ferro
Faz trilha
No espaço aberto
Por prumos de rumo incerto
Num certo farto carril

O trem fantasma
Não falha
Só tira a calma
De quem nunca o viu

ARTEFATO

Não se trata de aceitar
A realidade
Com a covardia sem arte
Do conformismo
Ou com o típico cinismo
Dos espertos da economia

Muito menos negá-la
Inventando rituais de ilusão
Ou doses anestésicas e esotéricas
De exercícios de auto hipnose

Trata-se de reconhecer
E entender o que é real
Pra resistir
Numa inconformidade
Criativa
Libertária
E bem humorada

A delícia amorosa
Do não,
O escracho da autoridade,
A sátira da seriedade
Aristocrática do mofo...
Responder com
A flor ácida do humor
À violência dos poderes
E à paralisia da tradição,
Fustigar a lógica
Paranóica dos negócios
Com os espinhos inflammados
De arte rebelada...
Fazer ridículo da propaganda
E das marcas das empresas
Que mandam no mundo

É inventar uma bomba
Auto imune
De oxigênio
E soprar fogo
Na imaginação

Realistas utópicos
Criativos
Libertários
E bem-humorados:
Uni-vos...
E diverti-vos!!!

4.10.09

PERNAS

As pernas
Mais belas
Da superfície
Da Terra:
Aquela mulher
Aquarela
Minha tara paixão
Singela

REPÚBLICA HI FI

Oferta
De republicano:
Meu reino
Por um piano

ROTAÇÂO

Tanta coisa gira...
Terra, Marte,
Vênus e Urano
Giram os anéis de Saturno
Giram as luas de Netuno
E até os elétrons
Se não me engano

Gira a galáxia inteira
Gira minha mente
Inquietante
Como uma falta de ar
Contundente
Ao vento de 30 hélices
Mutantes

Gira o virabrequim
A espiral de nuvem
No Caribe
E o cardume
Na Lagoa Mirim

Gira até o que está morto:
O conservador
Obcecado
O homem de negócios
Enlouquecido
O fazendeiro
Rico e bem armado

Giram sóis
E sais de areia
Os barcos no nevoeiro
A Monalisa no Louvre
A água no ralo
E a sujeira

Tudo gira
Sem parar pra pensar
Sem pensar em parar
Gira mesmo por girar
E pra não se perder
Pelo espaço
Ocupando o mesmo lugar