28.5.07

VERBETE

Paixão,
É quando a gente
Se pergunta:
Pra que lado
Fica o chão?

[Aveia Poética 50]

22.5.07

VENTO

Vento
Vaga vento
Se não te tenho
Eu mesmo invento
Um vento trem
Ferrovia
Estelar e Láctea via...
Um bate pá de veneziana
Que destroça o calendário
Feito um ventilador imaginário
Um fole de pólen planetário
Em uma tormenta mundana

Até mesmo sem querer
Se não te tenho
Eu mesmo invento
Um salto ventoso
Turbina
Asa
Sustentação definida
A batedeira de foz e vertente
Uma impressão do sol nascente
Na barriga da vela estendida

Vento trem, ferrovia,
Momentânea alforria...
Quem te deu este poder,
Bem-vindo, irado, soprado?
Seria a boca de Deus?
Seria seu hálito sagrado?
Não sei
E nem me interessa agora
Quem te fez assim intenso
Mais que intenso
Imenso
Auto-alado, indomado,
Um palhaço de roda-moinho
O ar da graça endiabrado

Vento
Vaga vento
Se não te tenho
Não vacilo
Na mesma hora reinvento
Um varre vento no pensamento
Pra espantar o desalento
Dessa alma em desalinho
Que no calor das barricadas
Com um novo sopro de rebeldia
Proclama
Com base no nada:
Todo poder à ventania!

[Aveia Poética 6]

20.5.07

Im.PENSAMENTOS.s (7 e 8)

(7)

No meio da pedra
Tinha um caminho...
O caminho das pedras!

(8)

Talvez de todos achados
Seja mesmo o mais sofrido
Perceber sempre atrasado
Que já está tudo perdido...

[Aveia Poética 47]

15.5.07

A ORDEM ARTIFICIAL DAS COISAS

Não me interessam as certezas
Que de tanto ser tesas
São só fortalezas
Do medo de pensar

Não me interessam as doutrinas
Os ritos e a tradição
Essas muralhas do acomodamento
Que tentam moldar o pensamento
E evitar a tentação
Qualquer subversão
À ordem artificial das coisas

Quero longe essas certezas
Que de tanto ser tesas
Não passam de presas
Do medo de amar

[Aveia Poética 44]

10.5.07

ARRITMIA

Eu queria ver as pessoas
Ela preferia ver as coisas
Eu gostava do movimento
Ela adorava parar e olhar
Ela curtia antiguidades
Eu procurava o que era novo
Ela vivia em buteco mpb
E eu só freqüentava rock bar
Ela achava família importante
E eu bem o contrário, muito antes,
Ela levava o trabalho a sério
- Isso eu jamais conseguiria! -
Sua casa era até decorada
A minha uma bagunça exemplar
Eu ajeitava com super bonder
Enquanto ela mandava consertar...

Que mulher...
Que paixão...
Que arritmia...
Como a gente se completava
Como a gente se entendia...

[Aveia Poética 34]

7.5.07

OUTONOS

Outonos são estranhos
Indiferentes
São castanhos
Naturalmente
Como tônus de estanho
Flexíveis
E dependentes

Ou como estação vazia
Que não vale uma parada
Nada que se acrescente
Como se outono ou nada
Nada fosse diferente

Ou tudo será outono?
Ou tudo será estanho?
Ou eu que perdi o sono
E acordei assim estranho
Olhando tudo castanho
Achando ainda assombrado
Que o mundo foi muito tacanho
E os hemisférios estão trocados?...

[Aveia Poética 22]