18.9.07

IMAGEM E SEMELHANÇA

Seu olhar tem sabor de Lua
É companhia sempre
E sempre inatingível
Flutua...
A distância é seu imã
Seu visgo
Quanto mais perto
Maior o perigo

Seu olhar tem a presença do vento
Do abrigo escondido
Se vê seu movimento
Com os olhos fechados
Se sente seu arrepio...
É rastilho de imaginação
Que espalha pólen
E semeia devastação

Seu olhar é passeio de céu
Um par azulado de asas
Que espalha tons
E revira nuanças
E além de tudo
E mais que tudo
É seu
E só seu...
Sua imagem e semelhança

[Aveia Poética 16]

14.9.07

SEXO DAS ÁRVORES

O vento cobre a cidade
Com o sexo das árvores
A vegetal sensualidade
Que se gruda nos cabelos
Que se prende pelos pêlos
E nos deixa um pouco mais arte

Mulheres ajudam o vento
Movimentando seus quadris
(E os moinhos do meu desejo...)
Meus caminhos que não existem
Coincidem com os passos delas
E eu começo a rir sozinho
Da minha frágil humanidade

O céu já está mais claro
Perdendo o metal do inverno
Quando um risco de avião
O divide em duas partes
Eu então invento uma prece:
Azuis do norte e do sul
Não me deixem desamparado
Uni-vos no azul claro!

Mas o dia não se entrega
E aperta o seu cerco
Eu só finjo que concordo
Mas consigo fugir pelos cantos
E chuto o lixo nas calçadas
As pessoas ficam tensas
Com olhar desconfiado
Os motoristas fecham os vidros
Fecham as caras...
E viram carros

[Aveia Poética 31]

4.9.07

REVERB.ELA

Ela explode minhas pupilas
Com sua lava de sorrisos
Quando flutua
Dançante e nua
Sob a chuva dos seus cabelos
Destilando o seu improviso

Ela finge
Que não conhece
O bounce flange da sua voz
Essa ronda intermitente
Que imanta meus ouvidos
E inala da minha alma
O reverb da sua mente

Eu então me despeço da Lua
E tento pisar na sua sombra
Enquanto ela voa e sola
Sem perdê-la de vista
E tento ficar atento
Pra ser o seu campo de pouso
Seu destino, sua pista,
Pra quando ela quiser voltar
Pra quando ela resolver dançar

[Aveia Poética 43]