30.8.07

TAO E QUAL

O eclipse revela a luz
Que tem na sombra
Que sempre desenha
Os contornos da luz

Assim,
Uno
E complementar

Tao e qual
Morte e vida
Noite e dia
Pois se tudo que há
Universo
Tudo que existe
Poesia

[Aveia Poética 19]

24.8.07

TARDE

A tarde segue assim
Estranha e sonolenta
Ao sabor do amargo
Gosto da impaciência
Assim
Na umidade pegajosa
Da solidão
Como uma crônica despedida
Espremida
Entre a manhã que explodiu
E as promessas de novo da noite

Bem assim
Como uma janela
Que recusa a luz por preguiça
A tarde não se perdoa
E cede seu tempo estranho
Para os cachorros e os carros
Que entopem as ruas e calçadas
Assim
Sem pensamento próprio
A tarde já nasce vazia
Separando o melhor do dia
E alimentando a tristeza

A tarde não me perdoa...

A tarde engole as horas
Ruminando o tempo
No pasto da cidade
Enquanto eu assopro as palavras
E procuro algum sinal de Vênus
Assim
A tarde fica mais pobre
Fica podre enfim e cai
E morre com a dignidade
Da implosão ótica do sol

A tarde não perdoa nada
Mas definha em grande estilo
Sua morte exuberante
Que já vai tarde
Muito tarde...

[Aveia Poética 38]

17.8.07

LANCHE

Nesses dias tão sombrios
Eu me esqueço
Andando quilômetros
Pela cidade fria e desconfiada
Eu quero
A velocidade da luz
Pra começar
E um pudim de pão
Com cauda de cometa
De sobremesa

[Aveia Poética 63]

12.8.07

E

E
A linha
Paralela
É a vida dela
Que se aninha
E desalinha
E desenha
Com a minha
Nossa nova
Geometria

E
As curvas
Do seu corpo
Que são belas
Todas elas
São as minhas
Passarelas
Minha escola
E harmonia

E
Os arcos
Dos seus olhos
Que são pontos
De encontro
Teoremas
Dos meus planos
Onde as cotas
De encanto
Dão o sentido
Desses dias

[Aveia Poética 51]

4.8.07

TRÍADE VAGA LUA

1 –
Já faz tempo que eu descobri
Que sei tão pouco de tão nada
Outro tanto de tempo faz
Que eu desisti de entender
Qualquer coisa que me tome
Mais que três segundos de atenção

2 –
A paixão é uma diretriz de incertezas
Uma palavra de desordem
Uma paz armada

3 –
Para quem não quer
Repetir seus caminhos
A noite cai em luva
E uma vaga lua lume
É apagar as certezas
E queimar as lâmpadas da ansiedade

[Aveia Poética 58]