24.8.07

TARDE

A tarde segue assim
Estranha e sonolenta
Ao sabor do amargo
Gosto da impaciência
Assim
Na umidade pegajosa
Da solidão
Como uma crônica despedida
Espremida
Entre a manhã que explodiu
E as promessas de novo da noite

Bem assim
Como uma janela
Que recusa a luz por preguiça
A tarde não se perdoa
E cede seu tempo estranho
Para os cachorros e os carros
Que entopem as ruas e calçadas
Assim
Sem pensamento próprio
A tarde já nasce vazia
Separando o melhor do dia
E alimentando a tristeza

A tarde não me perdoa...

A tarde engole as horas
Ruminando o tempo
No pasto da cidade
Enquanto eu assopro as palavras
E procuro algum sinal de Vênus
Assim
A tarde fica mais pobre
Fica podre enfim e cai
E morre com a dignidade
Da implosão ótica do sol

A tarde não perdoa nada
Mas definha em grande estilo
Sua morte exuberante
Que já vai tarde
Muito tarde...

[Aveia Poética 38]

1 Comments:

Blogger CarolBorne said...

Eba, eba, eba!!!

7:28 PM  

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