2.8.10

SUB MEMORABÍLIA

Um olhar pela memória
Corre como
Fio de lã desgarrado
Um pedaço de papel no vento
Um esforço extraordinário
Quase uma desistência

Ter foco e prioridade
Nunca foi minha virtude
Muito menos minha vontade
Eu olho rápido por todo lado
E como sempre enxerguei pouco
Sigo pela intuição do panorama
Talvez um desejo de totalidade

Minha época e circunstâncias
São confusas, inconstantes e difusas.
Desde cedo, muito antes,
Quando o mundo era quase apenas
A periferia de uma cidade extrema
De um país sem importância

Só que a ânsia
A época e as circunstâncias
Nunca dão espaço ao tempo
E ajudaram o pensamento
A querer velocidade
Esse olhar da totalidade
E, ao mesmo tempo,
Da distância

Ver a arte em toda a cidade
A rebelião contra a autoridade
Todas as revoluções sonhadas
Possíveis, impossíveis e imaginadas...
Era a ética feita matéria
A paixão toda escancarada...
As ruas, a música,
As mulheres impressionantes
A falta de grana constante
O soviete da zona norte...
(E quem liga pra zona norte?
Quem liga pro que somos e pensamos?...
Mas até que alguma coisa fizemos
E, mal e porcamente,
Eu estava presente...)

Um pedaço de fio
Uma manobra de papel no ar...
Cada vez mais
O futuro pode sempre
Ser menor que o passado
Mas nunca levamos isso a sério
Nem o passado é sério
Na velocidade inquieta
Da criação constante
- Ou, ao menos, insistente –

“Nada se amarra no ar”
O passado
É para quando der tempo
O futuro
Se vê depois
O que às vezes amarra
E conduz o vento

Ou tenta algum sopramento
É mesmo a ética

Feita matéria...