31.7.07

JANELA

Tem um estilhaço de céu
Um reboco
Um clarão
Um passeio pelas telhas
Pelas velas
Pelas velhas e suas fogueiras
Pelos trilhos e pelos baldes
Pela bagunça dos filhos
Pelas frestas na casa inteira
Pelo apito do trem que me acorda
Pelo futuro que vinga na certa
Pelo vento nas roupas na corda...
Tem o barulho da porta
E um vulcão despejando neblina
A hora que há horas boceja
E a fumaça da chuva fina
As vacas pela TV de capim
Pastando a programação
E um rio que se escapa nas pedras
Levando e molhando a noção
De tudo que deixa de ser
Para ser outra vez um clarão
Um reboco
Um estilhaço de céu
Um passeio pelas trilhas
Pelas valas
Pelas vilas e suas praças
Pelas calhas e pelas folhas
Pelo cabelo das filhas
Pelas falhas na casa inteira
Pelo trem que nunca existiu
Pelo futuro que é passageiro
Pela memória de quem nem partiu...

(Tem mesmo o que se teria
Se os olhos ficassem atentos
Abertos a cada momento
E ainda assim se perdendo
Como sempre se perderia
Como sempre eu me perderia...)

[Aveia Poética 49]

1 Comments:

Blogger CarolBorne said...

Lindo.
Como sempre.

10:30 PM  

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